Como se tornar árbitro de xadrez: requisitos, cursos e títulos nacionais

Uma breve explicação sobre a formação dos árbitros no Brasil e os títulos da CBX

A arbitragem no xadrez é uma função bastante curiosa. Sem uma arbitragem adequada, os grandes torneios simplesmente não aconteceriam. Além disso, cabe ao árbitro garantir o fair play, resolver situações delicadas que surgem durante as partidas, muitas vezes em meio a discussões acaloradas entre os jogadores, controlar o ambiente de jogo e esclarecer pontos complexos das regras e dos torneios para professores e pais. Tudo isso sem perder o bom relacionamento com os envolvidos e mantendo, acima de tudo, a imparcialidade indispensável à função.

Quando eu apenas jogava em torneios, sentia certo distanciamento entre árbitros e jogadores na minha região, o que não necessariamente ocorria em outros lugares ou com todos os árbitros. Talvez por parecer algo muito difícil e inalcançável para um adolescente, talvez pela formalidade excessiva que existia há alguns anos, ou talvez pelo meu próprio desinteresse.

Hoje, já como árbitro, percebo que é exatamente o contrário. Em parte, por grandes exemplos que tive, compreendi que o árbitro é uma peça essencial na comunidade enxadrística. Muitas vezes, é o árbitro quem incentiva os jogadores a estudar mais as regras e as situações práticas dos torneios, não apenas para evitar erros, mas também para despertar o interesse em seguir o mesmo caminho e formar novos árbitros.

São os árbitros que criam, organizam e movimentam o cenário local com eventos, oficiais ou não, incentivando o crescimento dos jogadores. São também os árbitros que formam novos árbitros, aqueles que, futuramente, assumirão essa mesma função e darão continuidade ao desenvolvimento do xadrez em sua região.

Dito isso, uma das primeiras dúvidas que tive quando comecei a arbitrar foi:

Como se tornar um árbitro?” E, mais adiante: “Como cada título é conquistado?”

A formação de árbitros geralmente começa quando um jogador, professor, pai ou outro interessado passa a auxiliar nos eventos e a estudar a “Laws of Chess”, normalmente com o apoio de um árbitro mais experiente.

Atualmente, os títulos de arbitragem são concedidos por três níveis de entidades: as federações estaduais, a Confederação Brasileira de Xadrez (CBX) e a “Fédération Internationale des Échecs” (FIDE). A seguir, abordamos as titulações em nível nacional, como forma de introdução ao tema.

Árbitro Local (AL)

Esta titulação pode variar de acordo com cada federação estadual, já que não há um padrão nacional para o seu nome nem para os seus requisitos.

No Paraná, por exemplo, a Federação de Xadrez do Paraná (FEXPAR) adota o título de Árbitro Local como uma forma de registro e formalização dos candidatos à arbitragem, servindo como etapa inicial àqueles que ainda não atendem aos requisitos para outras categorias.

Em geral, o Árbitro Local auxilia em torneios escolares, festivais e competições regionais, atuando sob a supervisão de árbitros mais experientes. Essa fase é essencial para o aprendizado prático e para o primeiro contato com os procedimentos administrativos e éticos da função.

Árbitro Auxiliar (AA)

Esta é a primeira titulação concedida pela Confederação Brasileira de Xadrez (CBX). Seus requisitos são:

  • Ter pelo menos 16 anos de idade;
  • Ser filiado à CBX e estar em situação regular;
  • Ter aprovação em um curso de arbitragem com chancela da CBX, realizado nos últimos quatro anos;
  • Ter atuado em pelo menos dois torneios em ritmo Standard e em outros dois torneios, mesmo que não oficiais;
  • Enviar, por e-mail, o currículo e os dados pessoais para análise e aprovação junto à CBX.

O título de Árbitro Auxiliar permite atuar em torneios locais e estaduais oficiais da CBX e FIDE, acumulando experiência prática necessária para as categorias superiores. Contudo, ele poderá ser árbitro-chefe somente em competições oficiais de seu estado, desde que tenha mais de 18 anos.

É altamente recomendável que, após obter esta titulação, o árbitro ative seu perfil junto à FIDE, conhecido como “Card da FIDE”, por meio do pagamento da taxa correspondente, pois este é um requisito implícito para as próximas titulações.

Árbitro Regional (AR)

O título de Árbitro Regional é o passo seguinte na hierarquia da arbitragem. Ele representa um nível mais consolidado de experiência e conhecimento técnico sobre as regras da FIDE, regulamentos de torneios e procedimentos administrativos. Para obter essa titulação, o candidato deve:

  • Ter, no mínimo, 18 anos;
  • Possuir requisitos quanto ao conhecimento da Law of chess da Fide, regulamentos dos torneios, administração de relógios de xadrez e questões de autodisciplina na atuação como árbitro.
  • Ser Árbitro Auxiliar (AA) por ao menos 2 anos, tendo experiência, e consequentemente registro de atuação junto a FIDE, em 3 torneios em ritmo standard com validade de rating FIDE e 1 outro torneio, independentemente do ritmo, com validade de rating FIDE;

Obs.: O prazo de 2 anos pode ser reduzido para 1 ano, caso haja aprovação em um curso avançado de arbitragem, chancelado pela CBX, ou um FIDE Arbiter Seminar.

  • Ter aprovação em um curso de arbitragem com chancela da CBX, realizado no máximo há dois anos;
  • Enviar relatório de atuação e comprovações à CBX para análise, aprovação e homologação.

Os Árbitros Regionais, além de possuírem uma titulação que indica um nível mais elevado de experiência, podendo atuar em competições oficiais fora de seu estado. Além disso, tornam-se elegíveis para ocupar cargos mais relevantes em torneios importantes da sua região, especialmente como Árbitro Adjunto (“Deputy Chief Arbiter“) e Árbitro Chefe (“Chief Arbiter“).

Árbitro Nacional (AN)

A titulação de Árbitro Nacional (AN) é o último nível concedido pela Confederação Brasileira de Xadrez (CBX) antes do ingresso nas titulações da FIDE. Ela representa o reconhecimento do árbitro como um profissional experiente, que domina as regras, possui prática consolidada em eventos de diferentes portes e mantém histórico de conduta ética exemplar. Além disso, Árbitros Nacionais podem atuar como Organizadores de Torneios Oficiais sem cursos adicionais de organizadores. Para obter essa titulação, o candidato deve:

  • Possuir requisitos quanto ao conhecimento da Law of chess da Fide, regulamentos dos torneios, habilidade com o emparceiramento em computadores e administração de planilhas e relatórios da CBX e FIDE, administração de relógios de xadrez e questões de autodisciplina na atuação como árbitro.
  • Ser Árbitro Regional (AR) por ao menos 1 ano, tendo experiência, e consequentemente registro de atuação junto a FIDE, em 5 torneios em ritmo standard com validade de rating FIDE e 1 outro torneio, independentemente do ritmo, com validade de rating FIDE nos últimos 3 anos;
  • Ter aprovação em um curso de arbitragem avançado com chancela da CBX ou FIDE Seminar;
  • Enviar relatório de atuação e comprovações à CBX para análise, aprovação e homologação.

O Árbitro Nacional está apto a atuar como árbitro principal em campeonatos nacionais e internacionais realizados no Brasil, além de poder supervisionar cursos, avaliações e atuações de árbitros regionais e auxiliares. É também uma das qualificações exigidas para solicitar títulos da FIDE, como o FIDE Arbiter (FA), que consiste no primeiro título de arbitragem concedido pela FIDE.

Estas são as titulações de arbitragem em âmbito nacional. Cada nível de titulação representa não apenas um avanço técnico, mas também um amadurecimento pessoal e ético dentro do xadrez.

Seja em pequenos torneios escolares ou em grandes campeonatos nacionais, o árbitro desempenha um papel essencial no desenvolvimento do esporte e na formação de novas gerações de jogadores e organizadores.

Agradeço por todos que leram este artigo e aos meus professores de arbitragem. Aos que querem iniciar na arbitragem é simples, busquem em suas regiões pessoas que possam ajudar você neste longo caminho e se envolva nos eventos!

Referências do Artigo:
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Autores do Artigo:
João Ari Ceregato
João Ari Ceregato
Sony CEO
Compartilho dicas, curiosidades e bastidores da arbitragem para ajudar jogadores e futuros árbitros a entender melhor o universo enxadrístico.

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